Livro destaca a contribuição africana e afrodescendente na literatura

Publicado originalmente em UFRN Notícias

Partindo do uso das palavras, a literatura produz sentidos e manifesta ao leitor diferentes contextos histórico-sociais. Mas, como outras fontes de conhecimento, o processo de colonização deixou as américas, por muito tempo, submissa ao olhar eurocêntrico. Foi percebendo esse problema nos manuais de historiografia das críticas literárias, ausentes de registros sobre as contribuições africanas, afrodescendentes e indígenas nas letras, que o professor Rogério Mendes construiu o livro Pedagogia da Cimarronaje, ganhador do Prêmio Gonzalez 2020. Disposta em 208 páginas, o objetivo da obra é dar visibilidade ao trabalho africano e afrodescendente para a produção literária da América-Latina e reafirmar a sua história e democracia. 

Sendo seu título completo: Pedagogias da Cimarronaje: A Contribuição das Cosmogonias e Cosmovisões Africanas e Afrodescendentes para Crítica Literária e Literatura Latino-Americana, o trabalho é dividido em duas partes e integra 6 capítulos que partem dos termos hispânicos “Cimarron” e “Cimarronage“. O autor, docente na Faculdade de Engenharia, Letras e Ciências Sociais do Seridó (Felcs/UFRN), chama atenção para a necessidade da obra de contar uma nova história e  saber as contribuições desses povos à crítica literária e a um sistema de pensamentos mais independente e dissociado da visão europeia. Aliado a isso, outra motivação do trabalho foi a lei  9.394, de 1996, que apesar de assegurar o ensino da história afro-brasileira na língua portuguesa, não garante o mesmo na língua espanhola.   

“Esse livro vai considerar a cosmogonia e a cosmovisão dos povos africanos e afrodescentes, o que há de mais genuíno. Vai trazer, por exemplo, a ênfase na importância do corpo como comunicação e sagrado, a disposição das oralidades, a dança. E também percebi que no Brasil havia uma produção muito sofisticada para pensar o africano e o afrodescendente, mas não tinha nenhuma visibilidade. Nesse trabalho eu trago algumas teorias como o afrorealismo, o conceito de inscritura, a pedagogia das encruzilhadas, a literatura do terreiro, o conceito de transafricana”, explica Rogério Mendes. 

Do desconhecimento sobre a produção literária afrodescendente, parte um problema observado pelo docente: o hábito de não se ler escritores latino-americanos. Isso acontece porque, muitas vezes, o ambiente acadêmico está mais voltado ao olhar europeu, aspecto que perde forças no  livro do autor. Ao lançar o olhar para as teorias anticoloniais,  ele analisou o trabalho de três autores com grandes contribuições históricas: do peruano Nicomedes Santa Cruz, do colombiano Manuel Sapata de Oliveira e do cubano Nicolás Guillén. Para Rogério Mendes, nosso processo de formação é muito particular e precisa ser visto a partir de particularidades nossas e não de uma perspectiva distante.

Sobre a obra, o autor não deixa de destacar que ela vem para que possamos discutir diversos problemas como a participação mais efetiva e democrática do afrodescendente na produção literária, além da  aceitação da nossa história como país, pois  muitas vezes a negamos. “O trabalho tem circulado bastante fora e gerado muitos convites para participar de eventos, debates e grupos. Não havia até agora uma obra como essa no contexto das hispanidades. Não existia um trabalho de fôlego e tem sido muito gratificante porque ele está sendo usado nas grades de pós-graduação”, compartilha.

Link para baixar o livro: https://hispanistas.org.br/wp-content/uploads/2022/05/RogerioMendes-PedagogiasdaCimarronajecorfinal.pdf

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