Projeto EJA em Movimento promove roda de conversa virtual sobre Interculturalidade e EJA

Na última quinta-feira, 23 de julho, às 15h, tivemos mais uma Roda de Conversa Virtual do Projeto EJA em movimento, desta vez em parceria com o Setor de EJA da Secretaria Municipal de Educação de Ceará Mirim, com a participação da Doutora em História, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Gabriela Mitidieri.
O tema do encontro foi “Educação intercultural e a construção de diálogo em tempos de crise: reflexão para professores, professoras e estudantes da EJA” e contou com uma participação de cerca de 56
De acordo com a profa. Gabriela, o debate mais recente sobre interculturalidade traz a necessidade de que ocorra um diálogo sobre o decolonialismo e a apropriação deste conceito pelo(a)s professore(a)s como ponto de partida para uma incorporação dessa perspectiva no contexto de suas práticas pedagógicas. Mas o que é decolonialismo?
É de conhecimento geral que durante o período do capitalismo mercantilista, marcado pelo que ficou conhecido como as “grandes navegações”, as potências hegemônicas europeias, com a intenção de expandir seus lucros e territórios, colonizaram territórios nas Américas, África e parte da Ásia. Esse momento da história também mostra toda a resistência travada pelos povos originários em relação ao modo de vida e cultura imposta pelos colonizadores europeus que, com o passar dos séculos, tornaram-se canônicos.
A expressão “Cânone” vem do grego Kanon que significa “lei”, “norma” ou “verdade”, que está vinculado à retenção de poder e autoridade. Neste contexto, o modelo político, social, cultural e educacional europeu fez-se canônico, como modelo a ser seguido, dando origem ao que se denomina de “eurocentrismo”. Quando se dá um processo de questionamento desse cânone, confrontando a visão cultural local em relação àquela oriunda da matriz colonizadora, ocorre a decolonização.
De modo que, tanto nas práticas pedagógicas como na formação continuada de professore(a)s é necessário o movimento de identificação e reconhecimento das culturas locais para se quebrar o Kanon europeu quanto à construção do conhecimento e a disseminação da informação, para isso é necessário uma visão crítica histórica que tenha a responsabilidade de ouvir as minorias culturais que reivindica mais voz na construção do saber.
Portanto, na contramão do cânone europeu, o decolonialismo é a desconstrução da valorização europeia, principalmente na disseminação do conhecimento. Um exemplo decolonial é o movimento cultural Afrofuturismo de cunho artístico-filosófico na dança, música e texto, combinado com elementos de ficção cientifica, ficção histórica, fantasia e afrocentrismo, para criticar dilemas atuais dos negros e reexaminar eventos históricos do passado, como é o caso da escritora Afro-americana Octavia E. Butler em suas obras literárias.
Para Mitidieri as práticas pedagógicas na sala de aula precisam estar cercadas de visão crítica quanto às relações geopolíticas desiguais, distribuição de recursos, disseminação da informação e do conhecimento. Nesse sentido, é preciso compreender que a formação de um diálogo não deve ser apenas “multicultural”, mas, principalmente “intercultural”, o que enseja uma compreensão do significado de cada uma das visões que essas expressões denotam.
Se na visão multiculturalista é proposto o pluralismo cultural em uma determinada região ou localidade, sustentada na categoria da “tolerância” entre os diferentes, o interculturalismo propõe a interação das diferentes culturas, de modo a se superar a tolerância, na medida em que esta, embora reconheça a diversidade entre culturas, não permite, conceitualmente, que haja diálogo interativo entre elas. Logo, a Educação Intercultural, de acordo com Mitidieri, diz respeito às construções das novas narrativas a partir do diálogo entre diferentes povos e culturas levando em consideração suas lutas sociais contra os processos de exclusão não apenas econômica, mas também na construção do conhecimento.

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