Manifesto EJA em Movimento

O seminário EJA em Movimento foi um sucesso absoluto. Auditório do Centro de Educação sempre lotado para nossas conferências. Boa participação na Oficina de Alfabetização de Jovens e Adultos numa Perspectiva Paulofreireana e no momento de socialização de relatos de experiência. A equipe que pensou e conduziu o evento está de parabéns pela qualidade geral do evento.
Como não se tratou apenas de "mais um evento", na quinta à tarde tivemos uma reunião de organização do grupo no sentido de novas ações para o próximo período. Nesse sentido, foi deliberado a construção de um documento, a ser apresentado ao governador eleito a partir de amanhã, contendo uma leitura do cenário da EJA no Estado, a apresentação de propostas, de modo que compromissos sejam assumidos em relação a essa questão.
Também foi aprovado a divulgação de um Manifesto de criação do movimento (reproduzido logo abaixo), que foi lido na sexta feira à noite, antes da conferência de encerramento.
A agenda do grupo agora é a seguinte: dia 13 de novembro, às 14h30min, na sala 32, 3o. andar, no Centro de Educação, teremos uma reunião do EJA em Movimento para avaliar o evento e definir mecanismos e estratégias de divulgação do Manifesto e do próprio movimento.
No dia 27 de novembro, teremos uma reunião para aprovarmos a versão final do documento a ser entregue para o novo governador eleito, bem como a estratégia de coleta de assinaturas desse documento, divulgação e ato de entrega. QUAISQUER COLEGAS QUE SE SINTAM COMPROMETIDOS COM A CAUSA DA EJA PODEM PARTICIPAR dessas reuniões e, se não puder participar, pode divulgar junto às instituições e colegas, através dos diversos mecanismos das redes sociais e correio eletrônico. Tão logo o documento esteja pronto daremos mais informes.

O Manifesto lido ontem é o que segue e foi assinado por 61 dos presentes na conferência de ontem. Caso alguém queira divulgá-lo em outros espaços e grupos é só enviar mensagem para o endereço eletrônico ejaemmovimento@gmail.com e receberá uma cópia.

EJA EM MOVIMENTO - MANIFESTO

Somos um coletivo de pessoas que compartilham uma mesma preocupação: o momento atual e os destinos da educação de pessoas jovens e adultas em nosso Estado e no Brasil. Sentimos-nos herdeiros do legado daqueles que em anos passados, a partir da mesma preocupação, implementaram neste chão ações que de tão significativas, correram mundo afora e se tornaram emblemáticas quando se fala em educação emancipatória. Somos herdeiros das ações cinquentenárias de Paulo Freire em Angicos e do prefeito Djalma Maranhão em Natal. E nos sentimos parceiros de todos quantos, nos últimos anos, têm investido energias no sentido de promover a educação de jovens e adultos como um direito humano universal e como prática pedagógica libertadora, vendo aí, uma das formas de se promover uma educação pública, gratuita, democrática, multicultural e com qualidade social.
Entendemos que a educação é, ao lado do trabalho, o processo social mais importante como formação dos humanos, independentemente de sua faixa etária. Assim, para nós, não há de se falar em “educação na idade adequada”, “educação na idade própria” ou “na idade certa”, como se existisse um tempo em que melhor se aprende e, consequentemente, um tempo em que aprender se torna uma missão quase impossível. Para nós, não se trata de um processo voltado apenas a crianças e adolescentes, mas que deve envolver jovens, adultos e idosos, tornando a educação, de fato, uma prática cultural que se estabelece por toda a vida e que diz respeito à formação de todos, irmanados em sua condição de humanos e sujeitos de direitos.
A EJA é uma modalidade da educação básica para onde acorre, parcela dos jovens estudantes que migram diretamente do ensino fundamental ou médio, em função de desistência ou reprovação. Ela, também, serve àqueles cuja trajetória pessoal de vida foi permeada por uma relação intermitente com o espaço escolar, resultado de opções condicionadas pela vulnerabilidade social, pelo desemprego e demais situações cuja essência está nos mecanismos de desigualdade social que nossa sociedade historicamente gestou. Com efeito, o número de analfabetos (funcionais ou absolutos) ou de pessoas com mais de 15 anos que não concluíram o ensino fundamental ou ensino médio, atinge cifras desafiadoras para toda a sociedade.
Porém, o que temos assistido tem sido um progressivo esvaziamento da EJA, através, principalmente, do fechamento de turmas nesta modalidade, pelos gestores públicos, como resposta ao que a linguagem técnica das secretarias denominam de “desperdício”, isto é, as pessoas se matriculam e não permanecem na escola depois de matriculadas. Do ponto de vista administrativo, fechar turmas e reduzir a oferta de matrículas frente ao suposto “desinteresse” dos sujeitos estudantes, certamente é a maneira mais fácil de lidar com o problema, mas do ponto de vista político-pedagógico é o mais terrível e, o pior, uma forma de se aprofundar a negação do direito à educação.
Sabemos que os tais índices de “desperdício” apenas são a indicação estatística de um problema que atinge não apenas a modalidade EJA, mas toda a educação básica, especialmente nos seus anos iniciais, de modo que não podemos lidar com este problema deslocado da própria forma como se conduz a educação básica como um todo.
Entendemos que a EJA não pode ser vista como um Ensino Fundamental de “segunda categoria” ou como “ensino de segunda chance”. A conquista de sua inserção na LDB como modalidade da educação básica não teve por finalidade copiar e “adaptar” para a EJA os princípios e práticas do ensino regular, mas construí-la como modelo pedagógico próprio.
Pensar um modo específico de se fazer educação escolar para um determinado sujeito ultrapassa contorcionismos adaptativos de conteúdos, metodologias, organização pedagógica, prática docente, tempo e espaço escolar do ensino regular, pois, é preciso lembrar, a maioria dos jovens e adultos já foram vítimas da rigidez, do tempo e da dinâmica do ensino regular, de modo que reproduzi-la na EJA é condiciona-los a uma nova interrupção na trajetória escolar.
Ao problematizar a EJA desta forma queremos deixar claro que somos um movimento político e pedagógico. Isto é, nossa atuação tem um sentido de crítica e proposição tanto dos aspectos pedagógicos, dos fazeres que cotidianamente são produzidos e reproduzidos em nossas salas de aula na rede de educação pública, como também no tratamento dessa modalidade no âmbito das políticas públicas.
Assim, nos propomos ser, ao mesmo tempo, espaço aberto para a reflexão e autoformação pedagógica de educadores que atuam na EJA, mas também, articulação política que se coloca ao lado e a serviço da promoção do direito à educação de homens e mulheres para quem esse direito foi ou está sendo negado.
A participação em nosso movimento é livre a qualquer sujeito que se reconheça nas lutas e objetivos que anunciamos aqui. E é com este espírito que nos colocamos à disposição do diálogo e à construção de ações conjuntas com quem quer que seja para que tenhamos uma educação pública de qualidade para os jovens e adultos de nosso Estado e, principalmente, de nosso município.

Comentários

  1. liceucarvalho@yahoo.com.br25 de outubro de 2014 às 16:45

    O nosso Seminário foi mesmo um sucesso, porém como afirma o professor mentor Alessandro esse foi o pontapé de um grande movimento a serviço do fortalecimento da EJA em nosso Estado e em especial no município de Natal. Agora é preciso mais e mais o engajamento de educadores para fortalecermos esse movimento.

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