EJA em Movimento discute experiência de organização curricular da rede pública municipal de Florianópolis: a pesquisa como princípio educativo.

Neste último 16 de julho, o Projeto EJA em Movimento realizou sua quarta reunião deste ano, contando com a presença de colegas professores do IFRN, estudantes da UFRN, e professores da rede pública municipal de Natal e munícipios vizinhos (Nísia Floresta, Macaíba, Maxaranguape, Ceará Mirim, Bodó, São Gonçalo do Amarante e Currais Novos), com o tema: “A pesquisa como principio educativo na EJA na rede municipal de Florianópolis – SC”.

Na oportunidade, debateu-se a experiência de organização curricular da rede pública municipal de Florianópolis, mediante uma vídeoconferência conduzida pelo prof. Daniel Berger, que além de professor da rede de educação básica da capital catarinense, está desenvolvendo uma pesquisa de doutorado sobre o tema.
Numa dinâmica bastante dialógica, o prof. Daniel informou que a decisão de desenvolver a organização curricular a partir da pesquisa como princípio educativo derivou do grande índice de desistências dos alunos na modalidade EJA, registrado na rede municipal de educação básica.
Em seu relato, o prof. Daniel explicou que o ingresso dos estudantes nas turmas de EJA ocorre em fluxo contínuo, de modo, portanto, que os estudantes podem se matricular a qualquer tempo.
A EJA é oferecida em Núcleos e Polos, localizados em bairros onde se têm unidades escolares ou em parcerias com instituições da sociedade civil, conveniadas, atuantes em comunidades populares, especialmente aquelas onde se registram mais dificuldades de deslocamento das pessoas. Nesses espaços, os estudantes conduzem seus respectivos aprendizados mediante a realização de pesquisas individuais ou em grupos, mobilizadas por meio de problemáticas de pesquisa que, anunciadas preferencialmente por meio de perguntas, expressam os seus interesses. Uma vez identificadas as perguntas, são organizados grupos de pesquisa de estudantes, por afinidade entre elas. E o fato de as pesquisas estarem associadas aos interesses e curiosidades dos estudantes acaba se tornando um fator preponderante à permanência deles.
Os grupos se organizam por segmento, sendo montadas turmas do primeiro segmento (equivalente aos anos iniciais do Ensino Fundamental) e turmas do segundo segmento (equivalente aos anos finais). Um detalhe que chamou a atenão dos presentes foi a informação de que a organização não é seriada, de modo que em uma mesma turma se encontram estudantes com percursos de escolarização diferenciados.
Dessa forma, o processo pedagógico não se organiza, nem tem por objetivos, o ensino de conteúdos previamente definidos, conforme as estruturas das disciplinas escolares, mas a incorporação dos conhecimentos à medida em que eles se apresentam como capazes de responderem às problemáticas das pesquisas assumidas pelos estudantes, com o apoio das equipes de professores.
Essa lógica possibilita que estudantes com faixas etárias, experiências e trajetórias escolares anteriores diferenciadas, possam desenvolver percursos singulares de formação, ao longo de 4 Ciclos de Pesquisa por ano, em cada uma das quais se processa com o exercício da elaboração da pergunta que orientará a pesquisa; prossegue com o desenvolvimento das atividades de coleta, sistematização e análise de dados; até a finalização da pesquisa, que é objeto de avaliação da equipe de professores, que devem registrá-la na forma não de uma nota, mas de um relatório.
O conferencista explicou que os conteúdos trabalhados com os grupos de estudantes são decorrentes das habilidades e competências relacionadas à leitura, escrita, cálculo e comparação. Dado, portanto, que os conteúdos emergem das problemáticas de pesquisa, temos o que se denomina de currículo pós-facto.
Alguns aspectos ganharam ênfase no debate, entre eles, o da avaliação, que ao invés de ser totalmente individual e mensurada a partir de critérios estipulados a priori, passa a ser considerada a partir de um conjunto de análises que enblogam o projeto, sua execução e os resultados do trabalho.
Foi objeto de intensa curiosidade o mecanismo, presente na experiência, que permite que os estudantes cumpram as 1600 horas do curso de EJA não apenas pelo exercício das atividades de pesquisa pensadas junto com os professores, mas também, o reconhecimento de saberes apropriados pelos estudantes em outros espaços. Esse reconhecimento é uma forma de flexibilizar a frequência, já que mesmo tendo o direito a 1600 horas, dada a heterogeneidade bastante comum entre o público da EJA, nem todos precisam desse tempo para concluírem seus estudos.
Daí que se lança mão do mecanismo, denominado HPE (Horas de Produção Externa), que possibilita reconhecer as práticas de leitura, registro, observação e produção que o estudante desenvolve fora do universo da sala de aula e da escola. Tanto pode ser uma produção livre como proposta pelos professores.
Para o prof. Daniel, os resultados desse processo e da implantação desse modelo são bastante positivos, especialmente porque foi identificada uma redução das taxas de abandono na modalidade, além de haver registros de que os estudantes sentem-se mais acolhidos e motivados a participar das atividades.
O relato foi encerrado com os agradecimentos de todos à disponibilidade do prof. Daniel em realizar o diálogo com todos os presentes, tendo
Após o término do relato, foi definido que o V Encontro EJA em Movimento deverá acontecer na segunda quinzena de outubro em data a ser definida.
Outra definição disse respeito à próxima reunião, a se realizar no dia 13 de agosto e que, em princípio, será a exposição do curso desenvolvido aos professores da EJA de Ceará Mirim, numa parceria entre a Prefeitura Municipal e o IFRN, denominado "A Ética da docência na EJA". Posteriormente, o grupo trabalhará a "Legislação na EJA", a ser trabalhada pelo prof. Alessandro A. de Azevêdo, da UFRN.

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